O SANTO MENINO VAQUEIRO

(Lenda do Meio Norte do Piauí)

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No meio das matas de cajueiros, onde o ser piauiense ainda persiste a insiste em existir no seio daquele povo, muitas histórias fantásticas foram suscitadas e inauguradas, fazendo ressoar nos corações e nas almas de tantos meninos, rapazes, moças e velhos. Sabemos que devido às novas tecnologias, fruto da acelerada globalização, podemos esquecer-nos das nossas tradições.

Neste interím, irei escrever sobre uma lenda, em comum da religiosidade popular do meio norte do Piauí; a história a seguir é conhecida como “menino vaqueiro”.

O Piauí do século XVII, quando começaram as penetrações das expedições e as doações das primeiras sesmarias, era juridicamente “Terra de Ninguém”. As sesmarias eram doadas por governantes da Bahia, de Pernambuco, do Pará e do Maranhão.  Juridicamente, o Piauí pertencia, desde 1621, ao Estado do Maranhão, criado por carta régia, que compreendia o que hoje são os Estados do Pará, Maranhão, Piauí, Amazonas, arte do Ceará, Norte do Mato Grosso e Goiás, Acre, Rondônia, Roraima e Amapá.

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Quando as charqueadas se espalhavam aos montes e vilas, pelos anos de 1697, havia no Piauí 129 fazendas de gado, habitadas por 441 pessoas entre brancos, negros, índios, mulatos e mestiços. Surgia assim o trabalho dos vaqueiros foi fundamental na criação do gado vacum. Desde cedo, se aprendia a trabalhar na arte de aboiar e cuidar dos animais do senhor e quando advinham os erros, os açoites eram cruéis e dolorosos. Um jovem negro se destacava entre os demais negrinhos da região; sempre o que lhe era pedido buscar ou achar, ele encontrava e sua sabedoria era atípica. Calculava com maestria e cantava os hinos da missa com voz de reto tom, que dava inveja ao coro da capelinha de Montserrath. Sabia a história de São Benedito e São Francisco, que eram de sua devoção pessoal, rezava até um pouco em latim, mas era conhecido também pelo seu amor ao seu trabalho e a seu pai, escravo libertado pelo seu senhor, como gratidão por tê-lo salvado de uma emboscada.

Mas toda essa bravura e virtude causava ódio aos seus próximos. Era amado por negros e brancos e também odiado pelos mesmos. Ele sempre fugia das armadilhas, às vezes sofria com as punições por causa de histórias inventadas e até por ser “bom e virtuoso’ demais”. O jovem negrinho sofria, mas persistia e cuidava do gado, com coragem. Um dia, em uma discussão com um posseiro, vira seu pai assassinado a golpes de faca. Jurou vingança, na hora e no cortejo da rede viu-se convidado a perdoar, mas por receio de sua fraqueza do que por virtude.

Porém, ele logo iria junto para seu pai.

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Em meados de 1707, o jovem vaqueiro, estava levando o seu gado adiante pelas capoeiras. Estava cansando de criar gado e já ambicionava entrar na ordem dos Franciscanos, onde seu amado São Benedito foi membro; queria ser responsável pelo cuidado dos negrinhos, dos funerais, de comprar alforrias e demais coisas. Iria viver para seu “Patrão” maior, este que sabia o peso dos chicotes dos homens. Mas a caminho do povoado Testa Branca, fora assassinado por três bandoleiros, para roubar o gado. Afogado em seu próprio sangue, proferiu as palavras de Jesus: “Pai, perdoa-lhes…”.

Ia passando por ali, um padre idoso, que vinha fazer a desobriga de alguns escravos e viu o negro agonizando, foi ao seu encontro e o colocou em sua montaria, levou aos membros da confraria e estes apesar das tentativas, não conseguiram salva-lo. O mesmo padre que o encontrou celebrou suas exéquias (mas para desencargo de virtude, do que por amor) e fora enterrado próximo ao altar da Virgem Maria.

Mas sua alma, firme em viver a justiça na terra, o tornou alvo de orações e pedidos, intenções nas missas e no aboiar.

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Muitos já o viram, a pedido de mães e pais, indo resgatar seus filhos em plena estrada na noite, outros juram pelos seus progenitores que sua intercessão é válida e que assim como muitos santos, o menino vaqueiro, encontra o que está perdido, convence os incorrigíveis e luta nas batalhas necessárias. Alguns chegam até a dizer que o viram ao lado de Simplício Dias na Praça da Graça a proclamar a independência da província e que lutara com fervor ao lado dos paladinos e mercenários a favor da independência do Piauí. Seus restos continuam aos pés da Virgem, mas sua lápide foi descartada, devido às reformas da década de 1970, que foram feitas discriminadamente.

Muitos idosos pedem a intercessão a este mártir anônimo que roga pelos brancos e negros, com lágrimas nos olhos por ver o racismo e o ódio, de ambas as partes e esqueceram que o amor é a virtude maior, é a resposta principal do coração do homem.

Hoje, então me uno a ti, Santo Menino  Vaqueiro, rogue por nós que precisamos  ser mais gente e menos raça…

TEXTO: LEONARDO SILVA

FONTE: O PIAGUÍ VIRTUAL

9 comentários em “O SANTO MENINO VAQUEIRO

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  1. Linda seu comentário e seu texto aqui essa lenda aí é viva no meio da mata do sertão o menino vaqueiro tanto trás o gado perdido e cordeiros na mata é linda a história tudo começou no Piauí e hoje está presente no sertão do Ceará aqui em casa que é a divisa dos dois municípios entre itapaje e Irauçuba sempre as pessoas ao sair de casa pede para o menino vaqueiro proteção divina aos seus animais e caminhos.

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  2. Nunca eu tinha me apegado com o santo menino vaqueiro, e neste sábado dia 17/04/2021 fiz o meu premeiro pedido de socorro e fui imediatamente atendido, e tenho a honra de contar pra quem queira saber….

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  3. Eu não conhecia a história do santo menino vaqueiro ,fiquei comovida com essa história e creio que Ele é Santo e vou pedir intercessão dele em favor de Maria Cecília, uma pequena menina de 2 anos que sofre e os médicos não descobre a doença que comete a pequena..Sei que ela será curada..CONFIO NO SANTO MENINO VAQUEIRO…EM NOME DE JESUS…AMÉM. VOLTO DEPOIS PARA NARRAR A CURA DE CECÍLIA…AMÉM

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  4. Sou Cearense e tenho 59 anos e o menino vaqueiro sempre foi muito presente na vida de toda minha família. Ele nunca deixou de nos valer. Não existe uma oração específica, pelo menos, desconheço, porém, todos os pedidos de objetos perdidos a ele invocado, de pronto atendimento eram encontrados; até mesmo o seu emprego que Deus lhe deixou reservado. Mas logo ao receber o seu favor, acenda uma vela, juntamente com um copo com água, (pois para apressar na entrega dos pedidos, ele andava com seu cavalo em noites escuras passando frio, fome e sede) Reze também um Pai Nosso e uma Ave Maria.

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