(Beneditinos – Piauí)
Quem chega em Beneditinos, Piauí, vê logo surgir no horizonte um morro de topo redondo, em formato de cuia, que se destaca como um dos principais pontos turísticos da cidade. Na nomenclatura geomorfológica, o Morro do Miranda é classificado como um morro testemunho, ou seja, tem esse nome dá o testemunho de que o relevo das Cuestas do passado atingia uma superfície maior e que através do processo do recuo paralelo das vertentes, atingiu sua configuração atual. Em outras palavras: onde está o dito morro era o limite atual das escarpas da Cuesta.
O local, situado nas proximidades do Açude de Beneditinos, é denominado “Morro do Miranda” em virtude de uma história curiosa. Lá pelos anos da década de 1920, vivia em Beneditinos um homem conhecido por Miranda. Nessa mesma época, entre 1924 e 1927, cruzavam o país os integrantes da Coluna Prestes, um movimento político-militar liderado por Luiz Carlos Prestes e ligado ao tenentismo, que se mostrava insatisfeito com o governo de Artur Bernardes e o Regime Oligárquico característico da República Velha, que percorreu 25 mil quilômetros do Brasil, invadindo cidades ao longo do caminho e enfrentando as tropas do governo quando estas lhes impunham resistência.
Nas cidades por onde passava, a Coluna muitas vezes promovia saques, quando não recebia doações afim de abastecer sua tropa. O governo aproveitava-se disso para promover uma campanha de terror contra os colunistas, de modo que muitos os admiravam, mas também muitos os tratavam com indiferença, desconfiança e também com muito medo. Ademais as pessoas temiam também confrontos armados entre as tropas governistas e os colunistas. Quando passaram pelo Piauí, a maioria das cidades em seu caminho era quase que totalmente evacuada pelos seus habitantes, que, temerosos, partiam para cidades vizinhas ou mesmo para a zona rural. No Piauí, os colunistas eram chamados pela nossa gente, no mais das vezes, de “Revoltosos”.
Um dia, a cidade de Beneditinos tomou conhecimento de que os Revoltosos da Coluna Prestes passariam por ali. Muitos se esconderam em casa ou se evadiram da cidade. Miranda (o homem que dá nome ao morro) resolveu se esconder no topo do Morro. Quando tudo se acalmou e a cidade voltou à normalidade, Miranda, por algum motivo, não conseguiu mais descer do morro, e lá ficou até desnutrir-se e vir a óbito. Só muito tempo depois, encontraram seus restos mortais, tendo Miranda sido sepultado ali mesmo.
Após o decorrer de anos, iniciou-se uma devoção à alma do finado na encosta do morro, bem como no seu topo. Alguns anos atrás, um pai de santo conhecido por Salú realizava, no dia de São Sebastião (20 de janeiro), um pequeno festejo no lugar. Foi ele o responsável pela colocação de um cruzeiro que havia no topo do morro. Após sua morte, o movimento enfraqueceu, sendo levado à frente ainda por alguns anos, por um auxiliar seu de nome Canuto, até cessar completamente a celebração dos festejos. Todavia, a peregrinação ao topo do morro ainda persiste, tanto como exercício de fé quanto como por turistas que querem escalar e contemplar a vista do seu topo.
TEXTO: JOSÉ GIL BARBOSA TERCEIRO
REFERÊNCIAS
https://pt.wikipedia.org/wiki/Coluna_Prestes
https://brasilescola.uol.com.br/historiab/coluna-prestes.htm
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